quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Crônica nº 1


Como tudo começou

Eu era raquítico, confuso, meio conturbado, ideias diferentes e mente aérea. No sei como, mas devido às circunstancias, naquela pequena cidade fui parar. As pessoas eram conservadoras, mas a fofoca e conversas alheias eram um prato cheio para as senhoras de idade que perambulavam pelas ruas. Todos se conheciam, todos se cumprimentavam e eu passeava pelas ruas como um inquilino insatisfeito, cabeça baixa ou fone de ouvido viajando pelas canções de um pop esquecido. O divertido era acordar ao som do galo preso numa gaiola imensa no quintal ao lado, a vizinha era Joana e guardava, além do galo, um papagaio que todo fim de tarde cismava em gritar palavras desconexas. No que se dispunha a fazer na cidade era bem limitado ou se dedicava ao bom livro e seus devaneios complexos, ou se martirizava no calor da cozinha. Ha! Iria me esquecer, você também tinha como opção suprema sentar-se ante a tevê e iludir-se com as telenovelas e seriados. Sim, na pequena cidade havia sinal de tevê a cabo. Mas, nunca foi meu “forte”, televisão, é muito constante, quando se apega, duram somente alguns capítulos e você sente falta, é como se criássemos um filho com o decorrer do assistido, e de repente, quando o autor, diretor e atores decidem, tomam-no de você, e tudo como se não fizesse falta. Por ser também muito seletivo, isso me intriga em muito, quase não vejo tevê por opção, mas é claro que se ela estiver ligada e algo me interessar, dedico-me alguns pequenos minutos àquela apresentação. Fora estas opções “estrondosas” de entretenimento, havia uma de que mais me saturava, ir à escola. Biologia sempre foi meu fascínio mais a professora era atoa de mais, me deixava inquieto, tinha vontade de ir à frente, e explicar a lei de Darwin da maneira certa. História, eram filmes e mais filmes, a professora era uma graça, tinha um estilo meio “sapatão”, mas era casada e esperava um neném. A de matemática era “velhinha”, só fazia gritar e gritar, suas aulas eram estressantes e a matéria voava em meio a sala de um azul nauseante. Todos a adoravam e tinham um carinho por ela, mas zombavam o quanto podiam de seu rostinho miúdo com imensos óculos “fundos de garrafa”. Eu tinha pena. A turma era animada, faziam suas bagunças e no canto da sala na última cadeira, encontrava-se eu. E quando a aula era de Língua Portuguesa, o universo linguístico esperando por um renascimento instigante em minha mente, se posicionava numa galáxia repleta de letras expurgando saberes. A professora tinha carisma e tudo que ela falava carregava um tom mais que intelectual, sua filosofia era invejada por um aluno “raquítico” e estranho. Eu consegui me apaixonar pelo realismo, romantismo e cubismo. Até a ortografia me fazia delirar. Para alguém, como eu, que pensara em não ter nenhum dom, posicionei-me incrivelmente, descobri-me, na aula de Português, que escrever era o que tinha de melhor em mim. A cada redação uma biblioteca se formava em meu caderno, eram referencias, era o auxilio da professora adorável, e as palavras instigando-me a escrever e escrever. Ela tinha o dom, e conseguia passa-lo de maneira pacifica e singela. Foi nesses seis meses de vivência num lugarejo distante, que me apossei de algo que me fez tão índole, mesmo que minha persona ainda não seja tão eficaz, decorei-me de algo que amo, escrever é o que sei. Escrever é o que amarei para sempre. Agradeço a professora Lilian, por me ajudar a posicionar-me nessa escolha que me trás sempre aqui.

Ouso em escrever-me. 

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